O velho vigário andava com sua batina
branca que arrastava pelo chão, todos os
dias, rezando baixo, mas em dias específicos ele vestia por cima outros panos e
rezava auto até ir ao altar, onde algumas crianças o esperavam para que ele
comesse um pão e bebesse vinho em frente a varias pessoas, em seguida essas
pessoas também comiam seus pães. Algumas estavam sempre na igreja, limpado
algum lugar, fazendo uma mudança aqui e outra lá, ajudando a limpar a imagem do
novo santo, ou as velas sob seus pés, mas elas eram velhas e esse prédio antigo,
com teto bem acima do chão, que permanecia sujo e poeirento, onde minhas teias
se alastravam por sessões de teto.
Uma
das coisas que acontecia nesse dia especial, era uma cesta muito firme que era
passada de pessoa para pessoa, e elas colocavam dentro dela metal ou papel, mas
um homem especifico não, ele tirava da cesta alguns poucos papeis e outros
poucos metais, sem que ninguém visse, a não ser eu, no teto.
Isso
eu não entendia, já passei por outros lugares e sei o que alguns papeis e
metais fazem com o homem, mas eles não o comem, brigam por ele e sequer usam
para se alimentar, apesar disso isso é o que aparentemente é o que causa maior
fome.
A
fome, pelo conhecido “dinheiros”, algo que eles chamam assim, e alguns abrem seus
sinistros sorrisos após dizer ou receber, outros choram por sua falta, outros
pelo que ouvi acumulam muito dele. Eu sou uma aranha, eu posso entender o por
que de se acumular alimento, varias moscas ficam presas em minhas teias, e eu não
como todas ao mesmo tempo, mas não acumulo elas para sempre, algumas de minhas
filhas também tem fome, e algumas dessas teias nem minhas são.
A
grande questão é porque os humanos parecem ter uma fome por ter cada vez mais
desse “dinheiros”, cada vez mais e com maior quantidade, seria para ganhar
aquilo que eles chamam de tranqüilidade, apesar de eu ver pessoas que não tem “dinheiros”
que não ficam desesperadas por não ter, já as que tem ficam loucas quando
perdem todo ele.
Eu
sei o que eu já ouvi, que eles enlouquecem por ele, matam, mentem, escondem,
guardam, seqüestram, tiram, roubam, somem e outras tantas coisas por uma fome
de algo que eu não entendo, porque os que tem o suficiente ainda querem mais,
mais do que eles conseguiriam gastar no tempo de vida deles, mais do que os
filhos poderiam gastar.
Essa
fome devassadora deve ser de alguma forma um atributo para preencher alguma espécie
de vazio, porque eu sei que ela nunca acaba, por mais que tenham rios desse “dinheiros”
nunca acaba.
Os
homens deveriam ter mais medo dessa perigosa fome do que de outras coisas,
porque isso é algo que deixam os homens cegos e se perguntassem para mim, que
sou só uma aranha, é um veneno, pior do que a vingança e a raiva.
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