terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Os Contos da Tecedeira: A Fome

     O velho vigário andava com sua batina branca  que arrastava pelo chão, todos os dias, rezando baixo, mas em dias específicos ele vestia por cima outros panos e rezava auto até ir ao altar, onde algumas crianças o esperavam para que ele comesse um pão e bebesse vinho em frente a varias pessoas, em seguida essas pessoas também comiam seus pães. Algumas estavam sempre na igreja, limpado algum lugar, fazendo uma mudança aqui e outra lá, ajudando a limpar a imagem do novo santo, ou as velas sob seus pés, mas elas eram velhas e esse prédio antigo, com teto bem acima do chão, que permanecia sujo e poeirento, onde minhas teias se alastravam por sessões de teto.
     Uma das coisas que acontecia nesse dia especial, era uma cesta muito firme que era passada de pessoa para pessoa, e elas colocavam dentro dela metal ou papel, mas um homem especifico não, ele tirava da cesta alguns poucos papeis e outros poucos metais, sem que ninguém visse, a não ser eu, no teto.
     Isso eu não entendia, já passei por outros lugares e sei o que alguns papeis e metais fazem com o homem, mas eles não o comem, brigam por ele e sequer usam para se alimentar, apesar disso isso é o que aparentemente é o que causa maior fome.
     A fome, pelo conhecido “dinheiros”, algo que eles chamam assim, e alguns abrem seus sinistros sorrisos após dizer ou receber, outros choram por sua falta, outros pelo que ouvi acumulam muito dele. Eu sou uma aranha, eu posso entender o por que de se acumular alimento, varias moscas ficam presas em minhas teias, e eu não como todas ao mesmo tempo, mas não acumulo elas para sempre, algumas de minhas filhas também tem fome, e algumas dessas teias nem minhas são.
     A grande questão é porque os humanos parecem ter uma fome por ter cada vez mais desse “dinheiros”, cada vez mais e com maior quantidade, seria para ganhar aquilo que eles chamam de tranqüilidade, apesar de eu ver pessoas que não tem “dinheiros” que não ficam desesperadas por não ter, já as que tem ficam loucas quando perdem todo ele.
     Eu sei o que eu já ouvi, que eles enlouquecem por ele, matam, mentem, escondem, guardam, seqüestram, tiram, roubam, somem e outras tantas coisas por uma fome de algo que eu não entendo, porque os que tem o suficiente ainda querem mais, mais do que eles conseguiriam gastar no tempo de vida deles, mais do que os filhos poderiam gastar.
     Essa fome devassadora deve ser de alguma forma um atributo para preencher alguma espécie de vazio, porque eu sei que ela nunca acaba, por mais que tenham rios desse “dinheiros” nunca acaba.

     Os homens deveriam ter mais medo dessa perigosa fome do que de outras coisas, porque isso é algo que deixam os homens cegos e se perguntassem para mim, que sou só uma aranha, é um veneno, pior do que a vingança e a raiva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sobre se transmutar!

     Esse texto começa com um trecho da banda Síntese, com uma musica chamada Alvorada “Observe que a vida é renascer de quando em quando...